Professor da UFBA e uma das referências em biblioteconomia no Brasil, Cataldo apresentou uma série de palestras cujas temáticas abarcaram análise de marcas de proveniência, métodos de pesquisa e perspectivas futuras
Publicado: 27/06/2025
Por Elena Souza e Eliete Viana
Nesta semana, de 24 a 26 de junho, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP realizou um ciclo de palestras sobre a preservação de patrimônio bibliográfico, com a participação do professor Fabiano Cataldo de Azevedo, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na Sala Villa-Lobos.
Antes das atividades, na tarde de segunda-feira, dia 23 de junho, o professor Cataldo fez uma reunião com o diretor e o vice-diretor da BBM, Alexandre Macchione Saes e Hélio de Seixas Guimarães, respectivamente; e com dois dos bibliotecários da Biblioteca, Jeanne Beserra Lopez e Rodrigo Moreira Garcia.
Bibliotecários, vice-diretor e diretor da BBM fazem reunião com Fabiano Cataldo. Foto: Eliete Viana/ BBM-USP
Na conversa, realizada na Sala dos Grandes Formatos Cristina Antunes, os assuntos abordados foram os temas das palestras que Azevedo iria ministrar durante a semana na Biblioteca, a questão dos ex-líbris no acervo do Mindlin e do projeto de pesquisa dos ex-líbris da BBM, que é realizado pela bibliotecária Jeanne; e do acervo do Museu Imperial de Petrópolis, que não tem relação com a família imperial brasileira, no qual o professor da UFBA atuou na Área de Pesquisa, de julho de 2023 a fevereiro de 2025. Cataldo também ressaltou a importância de valorizar e fortalecer as bibliotecas brasilianas e a direção da BBM lembrou que já foi feito um levantamento sobre os acervos brasilianas no mundo e que pretendem criar uma rede de Brasilianas e também criar uma página no site da BBM.
Depois, os bibliotecários levaram o professor para conhecer melhor os espaços da Biblioteca, começando pelo primeiro andar, onde, além da Sala em que aconteceu a reunião — a qual contém livros de grandes formatos e é o espaço que a equipe do Serviço de Biblioteca e Documentação trabalha —, ficam os gabinetes dos pesquisadores e a Sala da equipe de Mediação Cultural. Em seguida, foram no subsolo, onde estão o Laboratório de Conservação Preventiva Guita Mindlin e o de Digitalização, além da reserva técnica da Biblioteca, onde livros que ainda não foram catalogados são armazenados.
Ciclo de palestras
Fabiano Cataldo apresenta palestra para profissionais e estudantes da área de Biblioteconomia. Fotos: Elena Souza/ BBM-USP
O primeiro dia do ciclo de palestras, 24 de junho, teve como tema As marcas de propriedade e proveniência: rastros de colecionismo bibliográfico e o livro além do conteúdo impresso. Na palestra, o professor da UFBA apresentou um panorama geral do que são as marcas de propriedade e as marcas de proveniência, esclarecendo que em seus estudos ele assume o termo marca de proveniência.
O professor convidou os participantes a pensarem nas motivações que levam a criação de uma marca de proveniência e como ela pode ser utilizada para estudos científicos. O palestrante esclareceu que o livro se caracteriza um artefato que apresenta metas narrativas. Nesse sentido, a marca de proveniência legitima a presença de determinado livro em uma coleção como objeto de pesquisa, independentemente de seu ano de publicação ou de seu conteúdo.
À esquerda, mesa-redonda com os três participantes, à direita, Nathália Henrich em apresentação individual. Fotos: Eliete Viana/ BBM-USP
Na manhã de quarta-feira, dia 25, aconteceu a mesa-redonda As marcas de proveniência na construção da narrativa da Camiliana da Oliveira Lima Library, com a participação do professor da UFBA, de Nathália Henrich, professora da Universidade Federal do ABC; e com a mediação de Íris Kantor, professora de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Nesta ocasião, foram compartilhados os resultados preliminares de um projeto colaborativo em andamento, dedicado a identificar, descrever e analisar marcas de proveniência para revelar a história ainda não contada da Coleção Camiliana — relativa ao escritor Camilo Castelo Branco (1825-1890), um dos principais representantes do Romantismo em Portugal — que pertenceu a Oliveira Lima.
Cataldo iniciou a mesa falando das múltiplas vozes que fazem parte de uma biblioteca, das camadas que vão se sobrepondo para formar uma coleção, que aqui na BBM o acervo é formado pela junção dos livros de José Mindlin e Rubens Borba de Moraes. O professor destacou que é importante conversar e dar voz também às pessoas que trabalham nestes acervos, sejam em bibliotecas ou museus, por exemplo, mas não necessariamente diretamente com os acervos, para assim saber mais detalhes a respeito. E daí contou que quando estava atuando no Museu Imperial de Petrópolis, ele conversou com dona Margareth, a funcionária mais antiga no museu, para saber mais detalhes. Além disso, ele disse que é importante identificar as editoras, as gráficas, que são esquecidas.
Nathália começou ressaltando que as marcas de proveniência sempre tiveram no seu objeto de pesquisa. Depois, destacou, que a coleção ibero-americana da Oliveira Lima Library tem uma brasiliana fantástica, falou do papel de Flora, a esposa de Manoel de Oliveira Lima, na formação e organização do acervo; que não dá pra falar da Coleção sem citar as questões políticas, que tem um motivo desta Biblioteca estar em Washington D.C. e vinculada à uma universidade específica, a Catholic University of America.
A professora descobriu em sua pesquisa que Oliveira Lima já tinha uma preocupação com marca de posse desde a juventude e apresentou as marcas e os carimbos usados nos livros da juventude dele, livros de faculdade; o primeiro e o segundo ex-líbris da Biblioteca, além de outros que já existiam nos livro adquiridos por ele. E que a coleção passa por três fases: primeira com Oliveira Lima, segunda com Flora e depois com Manoel Cardozo, que assumiu a curadoria da Biblioteca após o falecimento de Flora. Segundo Nathália, os livros de Oliveira Lima não continham muitas marcas e escritos, e sim as evidências de proveniência não são as tradicionais, como etiquetas, carimbos, ex-líbris.
A professora Íris Kantor comentou um pouco sobre as apresentações dos outros professores, que é preciso fazer uma biblioteca transversal, fazer que as ferramentas permitam a gente rastrear, conversar com os mais velhos, como já havia destacado Azevedo em sua fala; e que quando estamos lidando com bibliotecas raras, “temos de fazer um trabalho quase sociológico”. A docente da USP lembrou que é importante pensar também nos arquivistas, nos capistas, que uma biblioteca de obras raras deve ter um arquivo/espaço de instrumentos de pesquisa, com catálogos indicando os locais em que foram comprados; e que, infelizmente, aqui no Brasil não há isso.
Para fechar o ciclo, Fabiano Cataldo apresentou a palestra Metodologia para elaboração de critérios de descrição dos livros da Brasiliana da Coleção Geyer/ Museu Imperial/ Ibram. O professor contou sobre sua atividade como pesquisador, apontando os aspectos teóricos que nortearam seus estudos e os aprendizados que resultaram dessa investigação, como, por exemplo, a lógica de avaliação da bibliografia material.
Ao tratar das premissas do trabalho com obras raras, ele salientou a importância de buscar um equilíbrio entre os seguintes eixos: divulgação - acesso - preservação - segurança. Dessa forma, pretende-se possibilitar que os acervos especiais sejam amplamente difundidos entre a geração atual e, ao mesmo tempo, conservados a fim de que gerações futuras tenham a mesma oportunidade de acesso a esses materiais.
À esquerda, Fabiano Cataldo com parte da equipe da BBM, à direita, com Andreia Teresinha Wojcicki Ruberti e Jeanne Beserra Lopez. Fotos: Elena Souza/BBM-USP
No final da palestra, o palestrante pôde responder a algumas perguntas e comentários do público, além de trocar relatos de experiência com outros profissionais de biblioteconomia presentes no evento.