História

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Aberta ao público em 2013, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) é um órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP). Foi criada em janeiro de 2005 para abrigar e integrar a coleção brasiliana reunida ao longo de mais de oitenta anos pelo bibliófilo José Mindlin e sua esposa Guita. Com o seu expressivo conjunto de livros e manuscritos, a brasiliana reunida por Guita e José Mindlin é considerada a mais importante coleção do gênero formada por particulares. São cerca de 32 mil títulos que correspondem a 60 mil volumes aproximadamente.

Em 2002, o professor István Jancsó, então diretor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, concebeu, juntamente com José Mindlin, o projeto de construção de um moderno edifício capaz de abrigar as duas importantes coleções brasilianas da USP (a do próprio IEB, fundado em 1962 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, e a de José e Guita Mindlin).

Parte do acervo doado pertencia ao bibliófilo e bibliotecário Rubens Borba de Moraes, em quem José Mindlin reconhecia “uma espécie de irmão mais velho”, dono de “um amor aos livros e à leitura muito parecido com o meu”. Importante intelectual e o mais destacado estudioso da bibliografia sobre o Brasil, Rubens Borba de Moraes deixou sua biblioteca de cerca de 2300 obras ao casal Mindlin após seu falecimento, em 1986.


Uma extraordinária coleção sobre o Brasil: A biblioteca formada por José Mindlin ao longo de sua vida estava organizada em quatro principais vertentes temáticas: assuntos brasileiros, literatura em geral, livros de arte, e livros como objeto de arte em virtude de seus traços tipográficos, de sua diagramação, ilustração, encadernação etc.
O acervo doado à USP em 2006 reúne material sobre o Brasil ou que, tendo sido escrito e/ou publicado por brasileiros, sejam importantes para a compreensão da história e cultura do país. O conjunto é constituído por obras de literatura, história, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, periódicos, mapas, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas. A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin tem o objetivo de expandir seu acervo - torná-la uma biblioteca viva, conforme os ideais de José Mindlin -, adquirindo novos títulos e coleções que dialoguem com as vertentes iniciais do acervo.
Esta Biblioteca, conforme seu o regimento, tem o compromisso de conservar, divulgar e facilitar o acesso de estudantes, pesquisadores e do público em geral ao acervo, e promover a disseminação de estudos de assuntos brasileiros por meio de programas e projetos específicos. Neste sentido, ela tem atuado como um centro interdisciplinar de documentação, pesquisa e difusão científica de estudos brasileiros, da cultura do livro, da tecnologia da informação e das humanidades digitais, tornando-se um órgão de integração de diversas iniciativas acadêmicas, de interesse intersetorial e transdisciplinar.
Desde 2005, quando passou a funcionar, a Biblioteca tem reunido especialistas, sediado projetos e apoiado iniciativas de estudos, desenvolvendo atividades em torno de quatro campos do saber: 1) Estudos Brasileiros; 2) História do Livro e da Leitura; 3) Tecnologia do Conhecimento e Humanidades Digitais; e 4) Preservação, conservação e restauração do livro e do papel.


José e Guita Mindlin

José Mindlin (1914-2010): Nascido na cidade de São Paulo em 8 de setembro de 1914, José Ephim Mindlin trabalhou como jornalista na redação do jornal O Estado de S. Paulo desde os 15 anos de idade até se formar em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco, da USP, em 1936. Advogou por 20 anos. Em 1950 foi um dos fundadores da empresa Metal Leve, que se tornou uma das maiores empresas no setor de peças automotivas do Brasil. Como industrial, estimulou o desenvolvimento tecnológico e as exportações de manufaturados brasileiros. Foi doutor honoris causa por diversas universidades, inclusive pela USP. José Mindlin foi membro do Conselho Superior da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) de 1973 a 1974; de 1975 a 1976, diretor do Conselho de Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, quando estruturou a carreira de pesquisador. Foi também membro de diversos conselhos de entidades culturais, como IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e EDUSP (Editora da Universidade de São Paulo). Foi membro da Academia Paulista de Letras e, em 2006, elegeram-no para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Guita Mindlin (1916-2006): Nascida em São Paulo, em 1916, formou-se em Direito em 1940, mas nunca exerceu a profissão. Guita Kauffmann tinha 20 anos quando ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Lá conheceu o estudante José Mindlin e, dois anos depois, casaram-se. Interessada em história e literatura, fez cursos de extensão nos anos 1960 e 1970. Grande leitora, sempre zelou pelos livros da biblioteca que formou junto com José Mindlin e com o tempo foi estudando como conservá-los. Visitou bibliotecas, fez cursos no Brasil, na França, na Espanha e na Alemanha e montou um laboratório dentro de casa com a finalidade de cuidar melhor dos livros da biblioteca do casal. Em 1988, juntamente com Thereza Brandão Teixeira, criou a Associação Brasileira de Encadernação e Restauro (ABER), com o objetivo de reunir profissionais ligados à conservação e ao restauro de livros, documentos impressos e manuscritos e à encadernação artesanal, estimulando o interesse pela documentação gráfica.


O edifício

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin está instalada no Espaço Brasiliana USP, integrado ainda pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), Livraria da Edusp e Auditório István Jancsó. O projeto de arquitetura foi desenvolvido pelos escritórios de Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, com a assessoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O edifício foi inspirado em conceituadas bibliotecas de outros países, como a Beinecke Rare Book & Manuscript Library (Biblioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros), da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e a Biblioteca Sainte-Geneviève, de Paris, na França. A Library of Congress (Biblioteca do Congresso), de Washington, foi consultada para definir diretrizes de conservação das obras.
O acervo da BBM está abrigado em três mezaninos, que podem ser vistos do átrio da biblioteca. Uma reserva técnica com capacidade para cerca de 90 mil itens bibliográficos, periódicos e arquivísticos foi concebida para acolher a expansão do acervo da biblioteca. Dois laboratórios, o de conservação preventiva e o de digitalização, atuam na preservação e na divulgação virtual do acervo. A estrutura da BBM conta também com duas salas de leitura - uma de acesso livre, no piso térreo, e outra destinada à consulta das obras do acervo, no primeiro andar - e duas salas de exposição. A produção e divulgação de pesquisas em assuntos brasileiros está equipada com uma sala que abriga gabinetes destinados a pesquisadores associados e residentes e com uma sala para realização de eventos acadêmicos, que está preparada também para realizar apresentações musicais.
A estrutura do prédio prioriza a entrada de luz natural, promovendo economia de energia, além de possuir células fotoelétricas instaladas para a captação da energia solar, uma das melhores formas de produção de energia limpa.
Além dos recursos orçamentários da USP, a construção do edifício contou com o apoio do Ministério da Cultura, da Fundação Lampadia, do Programa de Ação (Proac) da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo, do Senador Eduardo M. Suplicy e do BNDES, e com o patrocínio (por meio da Lei Rouanet) da Petrobras, CBMM, CSN, Fundação Telefonica, Suzano Papel e Celulose, Fundação Votorantim, Grupo Santander, Natura, CPFL, Cosan e Raizen. O Gerenciamento da obra foi de responsabilidade da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP), em parceria com a Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP.