Publicado: 15/04/2025
Por Elena Souza e Eliete Viana
Grupo composto por familiares de Erico Verissimo, professores, pesquisadores e estudantes prestigiam a mesa-redonda que encerrou a Jornada na BBM. Foto: Julia Forner/BBM-USP
O escritor Erico Verissimo foi destaque na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP nesta segunda semana de abril, com a realização da Jornada Erico Verissimo na BBM, que aconteceu de 8 a 10 deste mês.
A Jornada teve organização de Márcia Ivana de Lima e Silva, umas das pesquisadoras residentes da BBM e professora aposentada do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Parte do projeto de Márcia no acervo BBM consiste na pesquisa e análise de manuscritos do romance Olhai os lírios do campo, de Verissimo.
Esse trabalho da pesquisadora resulta na formulação da homenagem que aconteceu na BBM e que inaugurou os projetos de celebração dos 120 anos de nascimento de Erico Verissimo (1905 - 1975), no dia 17 de dezembro. As comemorações foram propostas pelos próprios familiares do autor e pela editora Companhia das Letras, que publica seus títulos.
1º dia do minicurso:
Abrindo a Jornada, no dia 8 de abril, o primeiro dia do minicurso sobre o autor introduziu os participantes na vida e na obra construída pelo irreverente gaúcho. Sob uma perspectiva mais intimista, resultado de sua pesquisa e da proximidade com a família de Verissimo, Márcia Ivana retornou ao Rio Grande do Sul, mais especificamente a antiga Porto Alegre.
A cidade, cuja menção tornou nostálgicos os porto-alegrenses presentes no evento (sendo um deles a própria pesquisadora), é parte fundamental na obra de Erico Verissimo. Não apenas um pano de fundo, Porto Alegre se constrói como um personagem de grande importância para o escritor: a história, o ambiente e as pessoas inspiram a criação de suas narrativas.
Professora Márcia Ivana realiza leitura durante aula do minicurso. Fotos: Elena Souza/BBM-USP
Utilizando fotos e mapas antigos, e destacando acontecimentos marcantes, como a passagem de um Zepelim pelos céus da capital gaúcha, Márcia Ivana comentou o entrelace entre a cidade e algumas obras específicas de Verissimo.
2º dia do minicurso
O segundo dia, em 9 de abril, que contou com a presença das duas netas de Erico Verissimo, teve como foco o aspecto crítico dos livros, seu projeto estético e ideológico. Márcia tratou mais profundamente sobre o enredo e as personagens de obras específicas, como Clarissa e Incidente em Antares. Diante dessa análise, a ministrante salientou que o romance de caráter lúdico ganha força política.
À esquerda, duas netas de Erico Verissimo assistem à aula de Márcia Ivana; à direita, participantes do minicurso observam manuscritos do autor gaúcho. Fotos: Elena Souza/BBM-USP
Mesa-redonda 1
No dia 10, aconteceram duas mesas-redondas. Pela manhã, a primeira mesa-redonda teve a participação de Rachel Valença, coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles (IMS), e por Maria da Glória Bordini, professora do Instituto de Letras da UFRGS.
Raquel Valença e Maria da Glória Bordini apresentam a primeira mesa-redonda. Foto: Julia Forner/BBM-USP
Durante sua apresentação, Rachel mostrou imagens de documentos de Verissimo que o IMS possui, como recorte de jornais, fotografias. "O conjunto fotográfico do Erico é uma coisa espetacular. Porque o Erico talvez seja o único escritor, cujas obras o IMS guarda, que tem fotos desde o nascimento até sua morte", lembrou Rachel, que comentou não ser comum uma pessoa nascida no começo do século XX ter a quantidade de registros fotográficos que Erico tinha já na infância.
Fernanda, uma das netas de Erico Verissimo presente no evento, comentou que a quantidade de fotos do seu avô pode ter a ver com o velho Sebastião, pai dele, o qual tinha essa cultura de documentar, como uma "mania de grandeza do velho Sebastião", segundo ela.
A coordenadora do IMS citou algumas iniciativas realizadas para a preservação e divulgação do acervo e terminou a fala com um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902 -1987) sobre Verissimo, os quais eram amigos.
A segunda fala foi da professora Maria da Glória Bordini, professora do Instituto de Letras da UFRGS, "quem mais sabe sobre Verissimo no Brasil", como apresentou Márcia Ivana, que foi sua orientanda da iniciação científica até o doutorado.
Maria da Glória fez uma palestra sobre a obra O resto é silêncio, publicada pela primeira vez em 1943, o qual foi escrito pelo desassossego de Verissimo ao ter presenciado a morte de uma "rapariga loura, alva e franzina" que se joga de um prédio no centro de Porto Alegre, no outono de 1941.
Mesa-redonda 2
No período da tarde, a segunda mesa-redonda do dia contou com a presença da pesquisadora Márcia Ivana e de Antonio Dimas, professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O professor iniciou as discussões e apresentou sua pesquisa, na qual investiga cartas escritas por Erico Verissimo. Além de analisar junto ao grupo alguns exemplares dessas mensagens e seus conteúdos, ele comentou especialmente sobre a correspondência entre Verissimo e dois amigos, também grandes escritores brasileiros: Gilberto Freyre e Jorge Amado.
Antonio Dimas e Márcia Ivana na segunda mesa do dia. Fotos: Elena Souza/BBM-USP
Em seguida, Márcia Ivana falou sobre pesquisa na BBM, que tem como objeto de estudos os manuscritos do livro “Olhai os lírios do campo”. Apesar de ser ainda uma pesquisa recente, iniciada em agosto de 2024, já foi possível investigar aspectos de grande interesse. A pesquisadora comentou, por exemplo, sobre a construção das personagens femininas no livro e os aspectos referentes ao processo de escrita de Verissimo, como as rasuras encontradas nos datiloscritos e o sistema de cores utilizado por ele para organizar suas marcações.
Desde o dia 8 de abril, os manuscritos do livro Olhai os lírios do campo ficaram expostos no saguão da Biblioteca e poderão ser vistos pelo público até o dia 16.
Márcia Ivana ao lado do expositor em que estão os manuscritos de Erico Verissimo. Foto: Julia Forner/BBM-USP