O primeiro Boletim 3X22 abordou a temática do Manifesto, discutindo o conceito de caráter nacional e se utilizando dos manifestos propriamente ditos como fontes históricas, a fim de destacar o nível de compreensão a respeito do que se pensava e se produzia nos momentos de elaboração das obras. E se outrora nos valemos desses manifestos como um elemento comum entre os Brasis dos séculos XIX e XX, no sentido de discutir suas proximidades e distanciamentos, desta vez vamos mais fundo no debate identitário e pegamos carona no inflamado dilema sobre o que é, afinal, ser brasileiro. Percebe-se, atualmente, uma grande ascensão do chamado nacionalismo. E mesmo que, de certa forma, nunca tenhamos deixado de ser nacionalistas, como você verá em alguns textos desta edição, hoje em dia o fenômeno explode de maneira efervescente em todas as esferas possíveis. E dessa explosão chegamos a um projeto de nação que promete uma revolução às avessas da identidade brasileira. Isso, no entanto, não é exclusivo da nossa contemporaneidade, uma vez que essas tentativas de representações e construções de identidade aparecem na nossa história já a partir do século XIX: A independência, por exemplo, foi um período de extrema importância para a fabricação de um sentimento nacional. O modernismo, por sua vez, tentou romper com essa concepção que julgava ser ultrapassada, a fim de repensar e propor uma nova noção de identidade brasileira. A nacionalidade, que decorre do nacionalismo, é o sentimento de pertencer a uma cultura e/ou a uma nação. O debate em torno disso é o que está em voga. Há uma disputa entre todos os grupos que visam se destacar na hora de propor um projeto de nação. Nos permitimos adentrar nesse debate também. Nessa edição, contamos com duas grandes entrevistas: João Felipe Gonçalves, professor do departamento de antropologia da FFLCH-USP, discute o que significa esse tão polêmico termo “nacionalismo”. Antonio Dimas, pesquisador sênior do IEB-USP, por sua vez, nos mostra aspectos pouco conhecidos de um dos nossos maiores autores, Gilberto Freyre. Além das entrevistas, a edição conta com diversos artigos que visam entrar na disputa que está rolando. Afinal, sobrou alguma coisa da Semana de 22? Estamos vivendo uma nova independência ou é apenas mais uma mentira que está sendo contada? No fim de tudo, somos todos nacionalistas? Esperamos que tenha uma boa leitura e, quem sabe, descubra que brasileiro você deseja ser.