“Cadernos Negros” é a nova aquisição do acervo da Biblioteca Brasiliana

A coleção completa do periódico coordenado pelo Quilombhoje, composta de 45 publicações, é um dos importantes marcos da autoria negra no País

Publicado em 06/09/2024

Por Franklin Cordeiro Pontes

No dia 11 de setembro, às 18h30, ocorrerá no Auditório István Jancsó, do Espaço Brasiliana, o evento Cadernos Negros na BBM, organizado pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. No evento, estarão presentes Oswaldo de Camargo, um dos fundadores dos Cadernos Negros e do Quilombhoje; Abílio Ferreira e Miriam Alves, dois dos primeiros autores a contribuir com o periódico e com o coletivo; Marciano Ventura, editor e produtor cultural na periferia de São Paulo; e Ligia Fonseca Ferreira, professora de Língua e Literatura Francesas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que será a mediadora.

O encontro tem como objetivo divulgar uma das mais recentes adições ao seu acervo: a coleção completa dos Cadernos Negros. Sendo a única coleção completa em uma instituição de ensino superior no País, seja pública ou privada, as edições vêm diversificar o acervo da Biblioteca Brasiliana, permitindo que novas pesquisas sejam realizadas e trazendo novos debates sobre o percurso literário brasileiro.


46 anos


Iniciada em 1978, com a publicação de poemas de Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues, Cuti e outros autores, a série Cadernos Negros se consolidou como uma das mais importantes coletâneas de divulgação da literatura negro-brasileira no País.

A professora Ligia, que também é especialista nas relações étnico-raciais com a literatura brasileira, explica que “nós não temos, no Brasil, uma revista literária que tenha durado tanto, atravessado mais de quatro décadas, e isso é devido ao esforço, perseverança e o comprometimento de um grupo de escritores”, destaca a docente.

Em 1980, criou-se o Quilombhoje, coletivo que, além de cuidar das edições dos Cadernos e das reflexões teóricas entre literatura e racialidade, cânone e identidade, também deveria contribuir com o debate político e social sobre a situação dos afro-descendentes no Brasil. Com quase 50 anos de história, o Quilombhoje é um dos grupos que mais contribuiram profundamente com o movimento negro brasileiro, e seus Cadernos Negros não apenas conseguiram dar visibilidade às vozes historicamente negligenciadas, mas também atuaram na criação de um diferente imaginário coletivo, no qual as subjetividades negras são agentes de sua própria trajetória.

Ventura, responsável pela reunião da coleção que hoje se encontra na BBM, comenta sobre a relevância das 45 publicações que integram agora o acervo da biblioteca. “A importância da existência e persistência da série Cadernos Negros, em uma sociedade ainda marcadamente racista, torna-se uma forma de não só criar oportunidades para escritoras(es) negras(os), mas também garantir que o legado de suas experiências, conquistas e produções seja passado adiante, contribuindo para uma memória cultural negra nas letras brasileiras.”

A BBM, por ser um dos centros de memória brasiliana mais importantes do mundo, necessitava ter em seu acervo um dos marcos da luta antirracista do País e uma diversidade de vozes que reflita a complexidade do tecido social brasileiro.

O diretor da BBM, Alexandre Macchione Saes, considera que “a chegada dos Cadernos Negros à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin é um importante marco na atual política da biblioteca, [que visa] problematizar o conceito de brasiliana e expandir as vozes e interpretações sobre a literatura, a história e a cultura brasileira. Com os Cadernos Negros, a biblioteca incorpora um dos importantes marcos da autoria negra no País, e com isso, amplia a complexidade das interpretações possíveis a serem feitas sobre a nossa história”, frisa Saes.

Hoje, cada uma das edições dos Cadernos Negros é rara, devido ao valor social que elas adquiriram. Autores incontornáveis na literatura contemporânea brasileira foram revelados por eles, como Conceição Evaristo, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Abílio Ferreira, Márcio Barbosa, Paulo Colina, Cuti e Oswaldo de Camargo.

Serviço
Cadernos Negros na BBM
Quando: 11/9, quarta-feira, às 18h30
Onde: Auditório István Jancsó, Espaço Brasiliana, na Rua da Biblioteca, 21 – Cidade Universitária, São Paulo
Quanto: Entrada gratuita, sem necessidade de inscrição prévia
Também terá transmissão ao vivo pelo canal da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin no YouTube.