“O lado oposto e os outros lados” é o título de um artigo de Sérgio Buarque de Holanda, de 1926, no qual ele expõe suas distâncias tanto em relação ao tradicionalismo quanto em relação aos seus próprios confrades modernistas, sobretudo aqueles que se engajavam numa concepção orgânica e intelectualista da cultura brasileira, supondo que uma arte de expressão nacional nasceria apenas da imposição de uma ordem ou hierarquia “que estrangulassem de vez este nosso maldito estouvamento de povo moço e sem juízo”.

O evento de 1922 foi um marco decisivo e de grande impacto na história cultural brasileira. Contudo, como todo evento concebido como celebração, gerou uma elaboração furtiva de estratégias de esquecimento dos tempos renegados, celebrando uns e silenciando outros, incluindo os projetos diferenciados dos próprios líderes do movimento cultural paulista – marginalizados ou relegados na concepção orgânica da cultura que se instalou ulteriormente no país.

O alijamento das linguagens culturais populares, mais diversificadas e plurais, acabou ainda por deixá-las suscetíveis de dialogarem (ou serem apropriadas) pela indústria cultural nascente – o que afinal, à parte raras exceções, acabou ocorrendo. A intrínseca diversidade dos projetos estéticos, passando ao largo das culturas já existentes, em suas várias linguagens, estilhaçou-se na história cultural posterior, passando por reciclagens, apropriações e descartes que resultaram num autêntico palimpsesto, quase irreconhecível cem anos depois.

Recuperar registros e autores destas temporalidades tantas vezes renegadas – os “outros lados” da cultura brasileira – é o objetivo deste seminário. Juntando poéticas, eventuais projetos multimídias, publicações e ensaios, que incluam lugares de memória, monumentalizados, poetizados ou marginalizados nas lembranças coletivas dos eventos, mostrando as alterações radicais na metropolização e modernização urbana brasileiras, especialmente (mas não exclusivamente) São Paulo; as junções espúrias entre os patrimônios materiais e imateriais; a eleição de marcos emblemáticos e o consequente apagamento de lugares, imagens e discursos relacionados à memória de afro-descendentes, escravos, imigrantes e outros grupos.

A partir nas “dérives” poéticas, hauridas de Alfred Jarry, Picasso e Apollinaire, e retomadas por Guy Débord nos anos 1950 – pretende-se ainda estimular reflexões sobre as topografias urbanas identitárias errantes, avessas aos “lugares de memória” monumentalizados, em contraste com as novas inflexões provocadas pelos impactos recentes de GPS, Google Maps, Waze, etc. e seus respectivos potenciais de desarticulação e diluição da experiência de uma esfera pública e memórias compartilhadas.

O seminário integra o projeto 3 vezes 22, em parceria com o SESC São Paulo, Institutos de Estudos Brasileiros e a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP

Serviço:

Data: 25/02/2019 a 28/02/2019

Dias e Horários: Segunda a Quinta, 14h às 18h.

Local: Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar - Bela Vista - São Paulo.

Valores:

R$ 4,50 - credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes

R$ 7,50 - pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante

R$ 15,00 - inteira

Inscreva-se no site do Centro de Pesquisa e Formação ou nas Unidades do Sesc em São Paulo.

As inscrições pela internet podem ser realizadas até um dia antes do início da atividade. Após esse período, caso ainda haja vagas, é possível se inscrever pessoalmente em todas as unidades. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição.

Se você necessita de recursos de acessibilidade, como tradução em Libras, audiodescrição, entre outros, solicite por e-mail ou telefone, com até 48 horas de antecedência do início da atividade. centrodepesquisaeformacao@sescsp.org.br / 11 3254-5600

Programação:

25/2 – Segunda–feira

14h – Abertura

14h30 – Mesa 1: O lado oposto e os outros bichos: antas, jabotis e a ecologia dos modernistas

O impacto dos discursos modernistas e modernos na cultura brasileira e suas projeções (e omissões) do universo ecológico.

Com Regina Horta Duarte (UFMG) e Nelson Aprobato Filho (USP)

Mediação: Janes Jorge (UNIFESP)

16h30 - Intervalo

17h – Mesa 2: O Lado Oposto e os Outros Monumentos: e se as estátuas falassem?

Os lugares de memória monumentalizados e as topografias urbanas errantes derivadas das visões modernistas

Com Paula Esther Janovitch (USP) e Roney Cytrinowicz (USP)

Mediação: Paulo Garcez (Museu Paulista - USP)

26/2 – Terça-feira

14h – Mesa 3: O lado oposto e as outras culturas

Reflexões sobre o marcos emblemáticos modernistas e o apagamento de rastros culturais de afrodescendentes, escravos, imigrantes e outros grupos.

Com Elena Pajaro Peres (IEB – USP) e Lígia Fonseca Ferreira (Unifesp)

Mediação: Maria Cristina Wissembach (FFLCH-USP)

16h - Intervalo

16h30 – Mesa 4: O lado oposto e os outros traços: modernismos e humor gráfico.

O humor gráfico e o retrato da modernidade e do modernismo no Brasil.

Com Rosane Pavan (USP) e Andrea Nogueira (USP/CPF)

Mediação: Ana Luiza Martins (Condephat)

27/2 – Quarta-feira

14h – Mesa 5: O lado oposto e os outros palcos: os modernistas e o universo teatral.

A cena teatral e as concepções de cultura derivadas dos olhares modernistas.

Com Ana Karicia Machado Dourado (USP) e Thais Leão Vieira (UFMT)

Mediação: Wagner Madeira (USP)

16h – Intervalo

16h30 – Mesa 6: O lado oposto e os outros impressos: editores, edições e leitores.

Jornais, livros, editores e leitores e seus desdobramentos nas concepções da cultura brasileira.

Com Tania de Luca (UNESP) e Nelson Schapochnik (USP).

Mediação: Leandro Antonio de Almeida (UFRB).

28/2 – Quinta-feira

14h – Mesa 7: O lado oposto e os lados lúdicos: literatura infantil

O lugar (e os lugares) do universo infantil na representação da modernidade brasileira

Com Camila Rodrigues (USP) e Patricia Raffaini (USP).

Mediação: Gabriela Pellegrini Soares (USP).

16h – Intervalo

16h30 - Mesa 8: O lado oposto e os outros críticos: modernismo das ruínas

Os discursos modernistas e as temporalidades renegadas na história cultural brasileira

Com Francisco Foot Hardman (Unicamp) e Luciana Murari (Puc- RS).

Mediação: Elias Thomé Saliba (USP).