Por Paulo Franchetti


Antonio de Castro Alves
(1847-1871) foi o último dos grandes poetas românticos brasileiros e o mais bem realizado cultor de um tipo de poesia que ficou conhecida como “condoreira”, isto é, caracterizada pela profusão de imagens grandiosas e sonoras, adequadas à declamação pública.

Dois de seus poemas "condoreiros" estão entre os mais conhecidos da literatura brasileira – “O navio negreiro” e “Vozes d'África”. Neles se vê a melhor realização do estilo, que nos momentos mais fracos do poeta se vê prejudicado pelo gosto excessivo da ostentação verbal e da oratória fácil. Às vezes, tão excessivo que o leva à composição de quase bestialógicos, como o famoso e muito sonoro “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. É que não era poesia para ser lida, a de Castro Alves, nem necessariamente entendida. Seu objetivo, o mais das vezes, era a comoção pela palavra impressionante. Por isso, na sua obra são mais numerosos os trechos e estrofes brilhantes do que os poemas bem realizados.

Como Casimiro de Abreu, Castro Alves é um momento de resolução na busca e construção do nacional, tal como delineadas pelos primeiros românticos. Ambos eliminam as tensões que provinham do arcabouço neoclássico de Gonçalves Dias e do universalismo inquieto de Álvares de Azevedo. Mas enquanto em Casimiro isso se faz pela recusa das candentes questões nacionais e dos grandes planos, e pelo confinamento na evocação da infância rural e no volteio galante no ambiente doméstico, Castro Alves desenvolve o padrão da poesia oratória que, por muitos anos, permanecerá popular no Brasil.

Há em Castro Alves, porém, outros tons, de que provêm algumas composições que, junto com as já citadas obras-primas abolicionistas, se alinham entre a melhor poesia do romantismo brasileiro. É o caso de “O Adeus de Teresa” e “Boa Noite”, que se destacam do conjunto de sua obra por retomarem o coloquialismo de Álvares de Azevedo, e de “Hebréia”, que se filia ao veio exotista que produziu também “O sibarita romano” e “A bainha do punhal”.

Os momentos mais notáveis da sua poesia são aqueles nos quais descreve a paisagem, como em “A cachoeira de Paulo Afonso”, bem como os poemas nos quais a linguagem desataviada se conjuga à capacidade descritiva da paisagem para produzir os poemas de amor mais impressivos desde Gonçalves Dias, como é o caso de “Aves de arribação” e “Horas de saudade”.

Sugestões de leitura

Andrade, Mário de. “Castro Alves”. Em Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Martins/ Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972.

Candido, Antonio. “Poesia e oratória em Castro Alves”. Em Formação da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2009.

Proença, Manuel Cavalcanti. “O cantador Castro Alves”. Em Augusto dos Anjos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Grifo / Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973.


Paulo Franchetti é professor titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp.